
A vida é um rio que passa,Num curso de fúria sem ter fim.Esse rio, para minha desgraça,Desagua, e gela, dentro de mim...
Os verbos chineses não possuem tempo. Eu também não " Hilda Hilst
Nunca gostei desse lance de tempo. Gosto do atemporal, mas impossível não nos deixar levar pelo tempo. Somos saudosistas, futuristas, ansiosos, planejadores, etc. Temos nosso trabalho que marca nosso horário de entrada, saída, horas extras e dias perdidos. O despertador que nos tira do nosso sono bom. O horário dos nossos programas de tv favorito [tv digital, domine logo o nosso mundo]. Juramos amor e fidelidade até que a morte nos separe [e viva o eterno enquanto dure]. Marcamos compromissos com horários que devem ser cumpridos à risca. Temos horários de vôos, trens, ônibus.
Isso tudo é organização do Homem moderno controlado por seu relógio impiedoso. Sei que não há como viver de outra maneira, pois cairíamos em meio ao caos e teríamos saudades de nossos relógios. Não é mesmo desse tempo a que me refiro. É outro tempo. É também o tempo que nos desgasta. O tempo que é visível o tempo inteiro. O tempo que é cruel. O tempo que não perdoa. O tempo que nos consome. O tempo que nos mata.
Queria não ter essa noção de tempo. Viver na minha utopia de que dia e noite são unos, de que tudo é contínuo e não início-fim, como nosso dia de 24 horas, nossa semana de 7 dias, nosso mês de 30 dias, nosso ano de 365 dias, nossa década, nosso século. Tudo marcado para não perder o fio da história. E o meu tempo? O tempo que eu preciso para digerir as coisas, o tempo que eu preciso para dormir, o tempo que eu preciso para fazer as coisas que eu gosto, o tempo para amar, o tempo para não fazer nada, o tempo para sonhar, o tempo para me iludir como agora, me iludindo de que o tempo é uma mera invenção humana e que ele deveria perder sua importância e cair em desuso.
O que é não possuir tempo? Alguém me ensina a viver assim?
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