Autores e editoras de livros descobrem os seus direitos
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Este texto era um dos e-mails nunca enviados, mensagens que eu começava a escrever, virava um mar de palavras agonizantes, gravava na pasta ‘Rascunhos’, lia e relia, e de cada releitura, desgostava ainda mais do que escrevia. É horrível começar escrever pensando ter uma boa idéia e no fim de 20 ou 30 parágrafos a idéia parecer tão estúpida e ridícula que você se sente envergonhado. Deixemos a vergonha de lado…
“05/09/2006
Bem, as pessoas perguntam sobre o livro “O Código da Vinci” levanta, tantas perguntas, que resolvi até mesmo começar a ler o livro, apesar de este tipo de ficção não ser propriamente meu gosto.
O autor e a editora afirmam ser uma obra ficcional. Foi o único ponto positivo durante a minha leitura: considero uma péssima tradução (muitos erros de gramática, admissível num e-mail como este mas não num best-seller/blockbuster); uma história escrita às pressas como se o autor quisesse cumprir um prazo pra editora e não pra entreter o seu leitor; assunto polêmico com roteirização hollywoodiana.
Mas não vou falar mais deste assunto, eu vou falar de modismo. Hoje consumimos coisas não porque precisamos mas por que a maioria das pessoas que conhecemos também a consomem. Isto é visível com o nosso gosto por se vestir ou pelo corte de cabelo. Talvez porque o ser humano adora se vangloriar do que consumiu a mais do que os outros. Se alguém chega e diz que jantou mignon nada mais gratificante em replicar que você comeu vitela. Esta sensação de inveja e disputa por quem comeu melhor, cria a moda de ‘comer mignon’ e a moda de ‘comer vitela’. Para a moda sobreviver, dependerá de natureza restritiva (ou não) para a maioria das pessoas. Por um breve período, é claro, visto que o ser humano (aquele que não possui acesso direto a moda) dá um jeito de compensá-la, isto é, se não consigo pagar R$ 250,00 numa calça jeans marca Levis eu posso muito bem pagar R$ 25,00 numa cópia exata num camelô da esquina.
É claro que isto também se reflete num mundo em que a maioria das pessoas começam a ter acesso educação e, como tudo que nos rodeia, a educação têm que ser moneitarizada. Um curso de segundo grau está mais próximo do analfabetismo hoje do que estava para o empreendorimso há 40 anos atrás. Isto têm grave reflexo no comportamento social das pessoas, visto que as pessoas com este desenvolvimento educacional aspiram novos níveis de consumo econômicos, como uma casa melhor, eletrodomésticos novos, carro mais novo, etc.
Nesta trilha, as pessoas começam a perceber que muitas outras pessoas têm acesso a mesma educação e aspiram os mesmos objetivos econômicos. Constatar isso, é como se sentir como ‘mais um’ numa imensa massa de pessoas. Ninguém quer isso; o que queremos é nos destacar. Então, começamos a criar outros meios (modas) em que a sensação de destaque seja mais exclusiva, individualmente.
Esta necessidade de sair da massa disforme de pessoas comuns e ser alguém de destaque, é a força motriz da moda, é o que alimenta o modismo e o diversifica a ponto de você comprar uma calça hoje por estar numa revista de moda e no mês seguinte a mesma revista afirmar que a nova tendência/moda é uma calça muito diferente. É desta maneira em que todo carnaval é lançado um ‘novo’ ritmo musical. É por este motivo que alguns homens deixam os cabelos longos apesar de que a moda padrão ser cortes de cabelo curto.
Extrapolando o raciocínio, desconsiderando estratificações socieconômicas, é possível assumir que uma imensa faixa da população tende a possuir bens consumíveis de maneira bastante acessíveis e que introduzimos um novo tipo de moda: da cultura. Vê-se filmes, lê-se livros, ouve-se música, como se consome um cachorro quente na esquina. A meta principal, o importante é consumir, é mantida e agrega aos seus consumidores um acréscimo social, pois eles são vistos como eruditos, refinados, elegantes, entre outros elogios.
É daí que vêm o sucesso do livro de Dan Brown. Um bom marketing, uma colcha de retalho bem costurada na forma de um romance ficcional, temas polêmicos onde a maioria das pessoas possuem lacunas de conhecimento ou são totalmente ignorantes neles, resultando num best-seller (blockbuster nos cinemas).
Apostaria um picolé de framboesa com qualquer um que ninguém jamais pensou em pegar um livro religioso ou de História e confrontar os acontecimentos do livro. Isto não vai acontecer, pois as pessoas não irão à Biblioteca e vasculhar livros velhos. Isto não será mais necessário, porque você pode
Conheço várias pessoas que leram o livro de Brown e, de minha compreensão delas, sei que se não fosse pelo marketing boca-a-boca e pela polêmica da Igreja Católica Apostólica Romana, jamais pegariam o livro para ler. Elas, infelizmente, leram por simples modismo. Dentre eles, os católicos, não gostaram da história, já que a direção da Capela Sistina é pintada como um grupo maniqueísta. Os gnósticos não gostaram porque as ‘ordens secretas’ são expostas no livros. A Opus Dei não gostou porque é retratada como uma seita fanática de assassinos, e assim por diante.
Vamos aos fatos então, e infelizmente, estes fatos têm muito e ao mesmo tempo pouco a ver com o livro de Brown:
1) Na História da Arte, é comum identificar os autores das obras por suas técnicas características entre elas, sentido e força da pincelada, composição química da tinta (antigamente os pintores fabricavam suas tintas, reforçando a exclusividade artística). Da Vinci, que era um polímata, versando da Astronomia, Matemática, Engenharia até as artes plásticas, escreveu manuscritos à mão. São chamados Codex, os livros escritos a mão, derivando daí seu nome, Código/Codex Da Vinci. Vêm da palavra Codex a origem de palavras como código, codificar (criptografar), etc.
O Codex Da Vinci foi escrito da direita pra esquerda e ao contrário, além outros truques, para evitar que qualquer pessoa pudesse roubar suas idéias. Os livros canônicos bíblicos, possuem sua origem em Codex, por exemplo:
Codex Sinaiticus (descoberto em 1859, em grego, século IV): novo testamento inteiro
Codex Vaticanus (em grego, século IV): Gênesis, Crônicas, Esdras, Salmos, Provérbios, …
Codex Alexandrinus (em grego, século V): Septuginta e novo testamento…
O diabo também possui referências em Codex:
Codex Gigas (em latim, século XIII): além de livros bíblicos e outras referências, possui uma das primeiras ilustrações do coxo-manco. No mínimo hilário, aparece o chifrudo com cuecas tipo samba-canção e com as mãos pra cima, parece que está dançando no carnaval da Bahia.
Há ainda outros códigos não-ocidentais como os mesoamericanos (Boturini Codex, Codex Cozcatzin, Codex Borgia, etc) mas não vamos nos estender nisso.
Da Vinci, fazendo jus a uma precaução paranóica, preencheu não só o seus manuscritos de códigos mas suas obras artísticas. Seus quadros, antes de arte, são permeados de referências matemáticas, muitas delas com o intuito de criar a ilusão de tridimensão. Estas técnicas representaram na época um enorme avanço na pintura renascentista e deriva de Da Vinci os exemplos mais conhecidos. Estas referências, é papel importante para a pintura visto que numa única obra o autor renascentista tinha que passar várias mensagens além de traços coloridos em cima de um pedaço de pano ou de madeira. Verifiquem este quadro do pintor Pieter Bruegel para entender o que estou querendo dizer:
Provérbios Holandeses - Pieter Bruegel, o velho
http://sunsite.nus.edu.sg/wm/paint/auth/bruegel/proverbs.jpg
{o número de provérbios deste quadro permanece incerto. Alguns deles são válidos para a cultura brasileira. ]
Logo, a prática de esconder informações em vários níveis em obras intelectuais era e ainda é uma prática comum. Da Vinci não foi o único.
2) Existem livros proibidos para os católicos, e por proibidos entende-se que estes livros não devem ser lidos e tampouco comprados. Copérnico, Galileu, Darwin já estiveram nesta situação perante a igreja católica. Contudo penso que os livros mais interessantes são os chamados evangelhos apócrifos, livros de autoria discutível e/ou desconhecida. E boa parte deles são assim classificados por causa de Jesus, não o da Bíblia, mas o Histórico. Jesus Histórico é e sempre será objeto de discussão visto que os documentos que falam dele são todos religiosos. Não há nenhum outra fonte senão autores religiosos. A única citação religiosa não-cristã, do historiador judeu Flavio Josefo, é questionada visto a suspeita de adulteração precisamente na passagem que falas dos cristãos primevos. Os romanos e sua mania de relatar por escrito os fatos sociais e econômicos mais relevantes não deixaram nenhum registro sobre o Jesus Histórico.Os evangelhos apócrifos são, no mínimo, curiosos:
- Evangelho de Maria Madalena (você acham que o Brown teve trabalho em criar a história? Heheheh…)
- Evangelho da Infância de Jesus
- Evangelho da morte e assunção de Maria
- Evangelho da Descida de Cristo aos infernos
- Evangelho de Enoque
- Evangelho da Vida de Adão e Eva
- Evangelho de Judas
A negação da veracidade dos apócrifos, a confusão dos textos bíblicos canônicos (oficiais), o vácuo de historicidade cristã, abriu espaço para que diversas teorias aparecessem para preencher as lacunas. Muitas delas são simples teorias da conspiração que só sobrevivem graças a credulidade das pessoas.Até que os concílios
Neste ambiente de intolerância cristã, desejos políticos do Vaticano, heresias, cresceu ainda mais as oportunidades para que novas interpretações ocorressem apesar da repressão da Inquisição. Data desta época, as primeiras referências lendárias da ordem dos Templários, a origem dos rosacrucianos, Santo Graal, entre outras. Os Illuminati, os gnósticos, sábios de Sião, são criações posteriores mas que possuem a mesma origem conspiratória paranóica.
Aí caímos na linhagem Merovíngia e sua descendência de Jesus Cristo. Jesus Cristo fugiu com Madalena, ou pelo menos seus filhos, para uma região ao norte do que é hoje a França. Daí é um sarapatel de miúdos de bode de dar de cabeça e de estômago, visto que os Templários afirmam descender dos Merovíngios, os Maçons afirmam descender dos Templários e dos Merovíngios, e dizem as más línguas até o George W. Bush é um membro direto da linhagem Merovíngia.
Existe uma coisa que é textos familiares afirmando sua genealogia. Outra coisa é confrontar esta genealogia. Dada a precariedade em opções de contestar estas genealogias, alguns afirmam ser de uma linha anterior a Cristo e supõem-se, mais pura, como é o caso de alguns textos Merovíngios afirmarem serem descendentes diretos de Noé. Quem está falando a verdade? Um picolé de pistache pra quem souber a resposta.
Saibam, que vendo as passagens dos evangelhos quando Jesus é preso, numa versão os fariseus aparecem e noutra são os romanos (quem prendeu Jesus, afinal?), lendo os apócrifos ou lendo as versões gnósticas (templários, maçons, etc), é bem capaz que você fique confuso. Se ficar, isto é sinal de sanidade mas não de conforto espiritual. A maioria dos textos canônicos, apócrifos e/ou gnósticos, datam do século III em diante, e são em grande parte traduções de traduções (traduttori, tradittori). É assunto de grande complexidade avaliá-los sobre uma ótica imparcial. Afirmar que Galileu não foi o primeiro a inventar o telescópio é uma coisa; outra coisa bem diferente é levantar fatos históricos sobre assuntos religiosos. Talvez as pessoas não tenham tanto interesse em história, afinal, pois ela pode nos dar lições doloridas.
Um exemplo desta História dolorida, principalmente para os leitores cristãos de Dan Brown, é a prelazia (a única na igreja católica com este status) Opus Dei tão discutida ultimamente. Seus métodos de controle de seus membros e suas práticas são no mínimo discutíveis e pende sobre ela uma lista enorme de mortes e violações de direitos humanos dentro das paredes da organização. Aparentemente, houve uma distinção do falecido papa João Paulo II em canonizar o seu amigo pessoal Josemaria Escrivá, fundador da Opus Dei, num dos processos de canonização mais rápidos que o Vaticano viu. É claro que não podemos esquecer que muitas pessoas que adentraram na organização realmente querem fazer trabalhos de caridade.
Então fica a pergunta para os católicos: até onde eles estão a fim de ir na história de sua religião?”